Ginkgo biloba tem poder
Pesquisas alimentam a
esperança de que a planta do Oriente previna (e ataque)
tumores no ovário, na mama, no cérebro e no
fígado. Com o seu extrato por perto, as células
malignas se autodestroem
por
Duda Teixeira | design Thiago Lyra | foto Dercílio
Nome
Científico:
Ginkgo biloba L.
Nome
popular:
Nogueira-do-japão
Origem:
Extremo Oriente
Aspecto:
As folhas se dispõem em leque e são semelhantes
ao trevo. A altura da árvore pode chegar a 40 metros. O
fruto lembra uma ameixa e contém uma noz que pode ser assada
e comida.
A
ginkgo biloba foi a primeira planta a brotar após a
destruição provocada pela bomba atômica
na cidade de Hiroshima, no Japão
A
ginkgo já é famosa por suas façanhas.
O extrato obtido de suas folhas comprovadamente reduz as tonturas,
refresca a memória, alivia as dores nas pernas e nos
braços e acaba com o zumbido no ouvido. Por tudo isso ela
arrebanhou uma vasta clientela, composta na maior parte por idosos. Mas
suspeita-se que o poder dessa planta de folhas de formato de leque
vá além. Estudos realizados em
laboratório e com seres humanos sugerem sua capacidade de
prevenir e atacar tumores — mais um importante item que se
acrescenta ao seu currículo.
Uma
das pesquisas que obtiveram resultados mais estrondosos foi
concluída no final do ano passado. Ao todo, 1 388 mulheres
foram acompanhadas por seis meses. Todas relataram tomar algum tipo de
remédio fitoterápico —
equinácea, ervade- são-joão, ginseng e
ginkgo. As que ingeriram esta última diariamente tiveram uma
incidência 60% menor de tumores de ovário. Para
entender o que estava ocorrendo, os surpresos cientistas levaram a
ginkgo para dentro do laboratório. Lá misturaram
o extrato da planta a culturas de células de
ovário cancerosas. Bastou uma pequena dose para que o
crescimento delas fosse reduzido em 80%.
ESTUDO
PIONEIRO
Foi
a primeira vez que se vislumbrou uma relação
entre a ginkgo e o combate ao câncer de ovário.
"Como o nosso estudo é pioneiro, as conclusões
precisam ser confirmadas por novos trabalhos", disse à
SAÚDE! Daniel Cramer, diretor de Obstetrícia e
Ginecologia Epidemiológica do Brigham and Women`s Hospital,
ligado à Escola Médica Harvard, nos Estados
Unidos. "Até que outras investigações
sejam feitas, acredito que mulheres com mais de 50 anos e
histórico familiar de câncer de ovário
deveriam considerar tomar ginkgo", diz ele.
Quando
se fala em tumores em geral, o relatório de Cramer
não é tão inovador assim. Mais de 50
estudos sobre ginkgo e câncer já foram
catalogados. Em 2002 uma pesquisa conduzida pelo grego Vassilios
Papadopoulos mostrou em laboratório e em testes
clínicos que a ginkgo inibe o crescimento agressivo de
tumores de mama. Também existem trabalhos sobre
câncer cerebral e de fígado. "Essa já
não é uma área de pesquisa em sua
infância", diz Nise Yamaguchi, pesquisadora da USP e vice-
presidente do Núcleo de Apoio ao Paciente com
Câncer, em São Paulo. "Já existem
muitos estudos consistentes. E com conclusões parecidas."
A
maneira como a ginkgo e seus componentes agem em escala celular ainda
não foi totalmente decifrada, mas há algumas
hipóteses. "Talvez a planta esteja envolvida com a
habilidade do organismo de causar apoptose, a morte programada de
células defeituosas", diz Cramer (veja
infográfico na próxima página). Outras
estratégias descritas em diferentes trabalhos são
sua habilidade para inibir os vasos que alimentam o câncer e
sua capacidade de evitar danos ao DNA. Esses efeitos são
obtidos por meio da ação de duas
substâncias, os terpenóides e os
bioflavonóides. Os primeiros viraram objeto de estudo mais
recentemente. Os bioflavonóides, contudo, são
conhecidos de longa data. Agem como antioxidantes, combatendo os
radicais livres e impedindo o envelhecimento. Ambos fazem parte do
mesmo extrato, o EGb 761 — matéria-prima dos
comprimidos vendidos em farmácias.
O
comprimido de ginkgo biloba desencadeia diversas
reações que vão desde os
pés até os ouvidos. Os vasos
sangüíneos se dilatam e o sangue fica menos viscoso
(mais "fino", como se diz). Assim, corre mais rápido, com
mais facilidade, e alcança melhor os lugares mais distantes
do coração. O labirinto, estrutura que pertence
ao ouvido, passa a ser mais bem irrigado e oxigenado, o que ajuda a
acabar com tonturas e zumbidos. As áreas do
cérebro responsáveis pela memória e
pelo raciocínio ficam mais despertas. O fluxo mais intenso
também acaba com as dores nos braços e nas
pernas, comuns na terceira idade. "A ginkgo produz muitos resultados e
por isso divide com a ervade- são-joão o
título de planta mais estudada na atualidade", afirma
João Batista Calixto, professor de farmacologia da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e autoridade brasileira
em medicamentos fitoterápicos.
Entre
todas as benesses creditadas à planta, uma passou a ser
questionada recentemente. É a que se refere à
contribuição da ginkgo aos pacientes com
Alzheimer. "Possivelmente o benefício seja
alcançado apenas se a droga for utilizada de forma
preventiva, anos antes do início da doença", diz
Orestes Forlenza, psiquiatra e pesquisador do Laboratório de
Neurociências da Universidade de São Paulo. "Os
estudos clínicos da ginkgo para o tratamento de
demências não demonstraram vantagens consistentes,
possivelmente porque já era tarde demais e o tamanho do
efeito era muito pequeno para modificar o curso clínico",
explica o pesquisador, que fez uma revisão da literatura
médica sobre o assunto.
São
raros os casos de efeitos colaterais advindos da ingestão de
ginkgo, mas não se pode ignorá-los. O
remédio possui tarja vermelha e só pode ser
vendido com receita médica (a dose máxima
recomendada é de 240 mg/dia). Esse cuidado existe porque, ao
dilatar os vasos sangüíneos, a ginkgo pode provocar
enxaqueca e aumentar a sensibilidade da pele, causando alergias. Esse
problema é maior nas cápsulas de pó
macerado e nas folhas para chá, vendidas em lojas de
produtos naturais. Além de ter a eficiência
questionada (veja o quadro na próxima página),
elas possuem grandes quantidades de um ácido capaz de
irritar a pele. Ao afinar o sangue, a planta também pode
causar sangramentos (antes de submeter um paciente a cirurgia, os
médicos costumam pedir que cesse a ingestão do
comprimido). Na bula do medicamento há ainda
advertências com relação a
distúrbios gastrointestinas e queda de pressão
arterial. "A ginkgo é uma planta segura, mas deve ser usada
com cautela", resume o americano Daniel Cramer.
MORTE
PROGRAMADA Na presença da ginkgo, as células malignas se autodestroem |
1 - PROCESSO NORMAL Quando alguma célula se danifica, sofre radiação ou infecção, o organismo envia uma ordem para que ela se autodestrua. Esse processo é chamado de apoptose. 2 - CÉLULAS TUMORAIS De vez em quando surgem células malignas que podem se multiplicar desordenadamente. O corpo manda a mesma ordem de implosão, mas elas não obedecem. 3 - COM GINKGO Na presença da ginkgo, as células tumorais ficam menos "teimosas". Quando a mensagem chega, a célula pode ter a membrana rompida. Os restos são comidos por fagócitos, defensores do corpo. |
O QUE JÁ SE COMPROVOU?
Dos
muitos benefícios atribuídos à ginkgo,
alguns foram validados pela literatura científica e outros,
desacreditados
ZUMBIDOS
NO OUVIDO E TONTURA
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São os principais chamarizes da planta. Ao aumentar a circulação no labirinto, estrutura interna do ouvido, a ginkgo diminui zumbidos e melhora a sensação de equilíbrio. | |
DORES
EM BRAÇOS E PERNAS
|
Os benefícios do extrato para a circulação se refletem na melhor irrigação das áreas mais distantes do coração, o que alivia as dores nos membros. | |
ENVELHECIMENTO
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Seus bioflavonóides são antioxidantes que combatem os radicais livres e evitam danos às células, acumulados com a idade. | |
CÂNCER
DE OVÁRIO
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Um estudo publicado em outubro de 2005 mostrou que a incidência desses tumores diminuiu entre 60% e 70% nas mulheres que ingeriram comprimidos com extrato de ginkgo. | |
CÂNCER
DE MAMA
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Testes preliminares em laboratórios e estudos clínicos publicados em 2002 indicaram que o extrato das folhas pode inibir a proliferação agressiva de tumores de mama. | |
MEMÓRIA
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A Organização Mundial da Saúde considera que a ginkgo melhora a capacidade de memória e de aprendizado, mas estudos recentes começam a pôr em dúvida se o efeito persiste no longo prazo. | |
ALZHEIMER
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A ginkgo já foi aprovada em alguns países para ajudar na prevenção dessa doença. Contudo, novos testes não mostraram benefícios consistentes quando o mal já está instalado. | |
COMPROVADO |
EM TESTE |
CONTESTADO
|
ALENTO EM CHERNOBYL
Em
1986 a usina nuclear de Chernobyl, na então União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas, sofreu uma
forte explosão de vapor seguida de incêndio. Mais
de 200 mil pessoas tiveram de ser transferidas para evitar os efeitos
da radiação. Um estudo publicado em 1995
ministrou extrato de ginkgo para 30 trabalhadores que estavam na
área do acidente. Por dois meses eles tomaram três
comprimidos de 40 mg. Ao final, a ginkgo reduziu os efeitos colaterais
provocados pelas radiações excessivas e diminuiu
o número de porções alteradas no DNA
desses homens.
PRODUÇÃO
GLOBAL
O
extrato usado nos comprimidos viaja pelo mundo antes de chegar
às prateleiras das farmácias. Em geral, as
árvores são cultivadas na região de
Bordeaux, na França, e na Carolina do Sul, nos Estados
Unidos — tidas como as mais adequadas para o cultivo da
planta. Depois de colhidas, as folhas são enviadas
à Irlanda para serem extraídas. Em seguida a
matéria-prima é exportada para vários
países (o Brasil é um deles) onde os comprimidos
são feitos e embalados.
DÁ
PARA CONFIAR?
Nas
farmácias brasileiras, os comprimidos de extrato de ginkgo
vendidos só com receita médica competem com
cápsulas de pó moído e folhas, em
embalagens expostas nas prateleiras ao alcance do consumidor. Muita
gente relata efeitos benéficos advindos dessas
fórmulas alternativas. Mas seriam elas tão
eficazes quanto os comprimidos? A resposta é não.
Pesquisadores da UFSC fizeram testes para saber quanto tem de
componentes do extrato EGb 761 nessas cápsulas e nas folhas
da planta. Conclusão: para obter a mesma quantidade de um
único comprimido de 120 mg seriam necessárias 20
cápsulas de 200 mg de pó moído. Quanto
ao chá, a eficácia depende da qualidade da
matéria-prima. "Mas seria preciso ingerir grande quantidade,
já que os teores das substâncias ativas no
chá caseiro são baixos", afirma
Cláudia Simões, autora do trabalho e pesquisadora
da UFSC. "A proporção ideal só
é obtida com os extratos secos padronizados."
Ilustração Diego Sanches produção Lívia Badan/Tenman-Ya
Link Para a Fonte Original da Notícia.
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