Muitas pessoas têm abdicado desse nutriente como justificativa para emagrecer. Investigamos para saber se tirá-lo da dieta vale a pena e por quê. Confira
Texto: Natasha Franco/Foto: Danilo Tanaka/Produção: Janaina Resende/Adaptação: Letícia Maciel
A sensibilidade pode aparecer em qualquer momento da vida, mas nem sempre é preciso ser
feita a restrição total do glúten Foto: Danilo Tanaka |
Glúten, uma palavra estranha constantemente encontrada não só nas embalagens de alimentos, como também na boca do povo. Cada vez mais as pessoas pensam em tirá-lo da dieta, porque acham que ele é um vilão da saúde. Mas você sabe exatamente o que ele é? Trata-se de uma proteína encontrada em grãos como o trigo, o centeio, a cevada, a aveia e o malte. Ele não é digerido com muita facilidade, embora seja encontrado em diversos alimentos, pois lhes dá mais elasticidade e volume. Isso explica a presença da farinha de trigo em inúmeras receitas. Por outro lado, agora paira sobre o glúten a fama de fazer mal para o organismo e até mesmo engordar! É verdade que o organismo de certas pessoas até reage a esse nutriente como se ele fosse um intruso (doença celíaca), o que leva à necessidade da completa renúncia dos alimentos que os contenham, sob pena de prejudicar todo o sistema orgânico. Além disso, alguns especialistas vêm observando quadros clínicos de sensibilidade ao glúten, sem que isso caracterize a doença celíaca propriamente dita. “O contato com a substância, nesses casos, não leva a danos específicos no intestino delgado. Contudo, os sintomas gastrointestinais assemelham-se aos dos celíacos”, define o nutrólogo e especialista em fisiologia Mohamad Barakat.
Sinais que incomodam
A nutróloga Ellen Márcia Durães Vieira Sena, membro da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) acrescenta que “A sensibilidade é um quadro identificado há pouco tempo e seu curso natural, bem como seus mecanismos, são pouco conhecidos”. Alguns dos efeitos que esses indivíduos apresentam são:anemia resistente, aumento de inflamações no corpo, irritabilidade e fadiga, enxaqueca, manchas ou alteração do esmalte dental, osteoporose antes da menopausa e constipação intestinal crônica. Sabe-se que essa condição pode aparecer em qualquer momento da vida e hipotisa-se que tenha ligação genética, como na doença celíaca, mas nem sempre é preciso ser feita a restrição total do glúten. “Alguns pacientes toleram pequenas quantidades por dia e permanecem sem sintomas com sorologia negativa”, comenta a nutricionista Tarcila Ferraz de Campos, mestre em Fisiologia Humana pela Universidade de São Paulo (USP). Esse quadro, porém, tem feito a classe médica questionar o consumo de glúten e faz com que alguns profissionais até deixem de recomendar sua ingestão.
Quero perder peso!
Mas o que pode ter tornado o glúten tão perigoso é o excesso de consumo. Afinal, itens como bolos, pães, macarrão e biscoitos se tornaram tradicionais no prato do brasileiro. O tipo de alimento que leva glúten em sua composição revela porque sua retirada do cardápio, afinal, emagrece: “A maior relação entre perda de peso e retirada do glúten está na exclusão de alimentos energéticos e de alta carga glicêmica, como é o caso dos pães à base de farinha branca, massas, biscoitos e doces como bolos e tortas”, explica a nutricionista Maristela Bassi Strufaldi, membro da equipe de Endocrinologia do Exercício da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ou seja, um dos efeitos da dieta sem glúten é justamente a ingestão menor de carboidratos, principalmente os simples. “Devido à facilidade e ao alto consumo de industrializados atuais, as pessoas acabam deixando de lado o consumo de grãos, outros tipos de cereais, legumes e verduras”, enfatiza Natália Dourado, nutricionista coordenadora do Glúten Free, evento dirigido à compreensão da bioquímica humana relacionada à nutrição.
Carboidratos simples
O que acontece é que esse tipo de alimento contém macronutrientes que se convertem rapidamente em glicose (açúcar) na corrente sanguínea, aumentando a quantidade de insulina, hormônio responsável por colocar esses nutrientes dentro de nossas células. O resultado é o aumento de depósito de gordura no corpo, principalmente na região do abdome. Talvez não seja o caso de tirar o glúten da dieta mas reduzir a ingestão de carboidratos. Em entrevista exclusiva para a VivaSaúde, o cardiologista americano William Davis, autor do livro Barriga de trigo (Ed. Martins Fontes), afirma que nem mesmo a troca da farinha de trigo refinada pela integral é vantajosa. “Em nutrição, a lógica de trocar algo ruim por algo ‘menos pior’ é comum. O trigo integral eleva o açúcar no sangue a cerca de 170 mg/dl, por exemplo. Adicione fibras e você terá uma taxa menos alta, 160 mg/dl, o que ainda é péssimo”, alerta Davis.
Quem entra e quem sai
O fato é que tirar os carboidratos da dieta, pode afetar a saúde. Pessoas que radicalizam acabam perdendo nutrientes como vitaminas do complexo B (niacina, tiamina, riboflavona, ácido fólico, vitamina B12) e minerais como zinco, fósforo e cálcio. “Estes nutrientes são encontrados na maioria dos carboidratos. O que deve ser feito é um rodízio de alimentos poucos usados no cotidiano, como a tapioca, os flocos de arroz, féculas de batata e mandioca, bem como vegetais como o inhame, a batata- baroa, o trigo sarraceno que não contêm glúten”, sugere a nutricionista Daniela Jobst (SP). Incluir no cardápio cereais como o amaranto, a chia e a quinoa é uma boa pedida. Para o médico Davis, no entanto, o melhor mesmo é reduzir ao máximo as massas, substituindo-as por outros itens. “Nós podemos escolher carboidratos cujas fontes são: vegetais, frutas, e em alguns graus, raízes e legumes como inhame e feijões”, diz. “Os nutrientes que acompanham esses carboidratos podem ser facilmente obtidos comendo alimentos reais como carnes, aves, peixes, oleaginosas, sementes, coco, abacate, vegetais, cogumelos e frutas”, enumera o especialista.
Tema controverso?
A indicação do cardiologista não é unânime, mas nenhum dos outros entrevistados contraindicou o consumo dos carboidratos por ele eleitos. Isso porque, diminuir o consumo de glúten abre espaço para uma maior ingesta de itens caseiros, reduzindo componentes químicos da alimentação. Se você não é celíaco, nem apresenta sintomas de sensibilidade ao glúten, o melhor é realizar essas mudanças gerais para levar um estilo de vida mais saudável, que poderá até fazê-lo emagrecer. Afinal, o nutriente acabará se reduzindo naturalmente da sua dieta! E se até os sensíveis ao glúten podem comer um prato de macarrão e um pãozinho, de vez em quando, por que privar-se desses prazeres? Pense nisso!
Fonte: http://revistavivasaude.uol.com.br/home/nutricao/ser-ou-nao-ser-gluten-free/1834/
0 comentários :
Postar um comentário